13.6.05

MORCEGOS E OUTROS BICHOS

Por Jaime Biaggio

Vi hoje pela manhã o melhor filme de super-herói já feito.

É, frase bem definitiva, superlativa, pra deixar todo mundo curioso mesmo. Mas vale a pena: Batman Begins é tudo o que os fãs do personagem poderiam querer e tudo o que os apreciadores do bom cinema poderiam querer (é, bom cinema, que pode vir em formato indie ou blockbuster, tanto faz). Um filme sóbrio, pesado quando precisa ser, tristonho na primeira meia hora, cujo ritmo é ágil mas compreensível para quem não tomou ecstasy, e cujas seqüências de ação só usam a tecnologia digital para realçar o que é, em grande parte, cenário construído e lutas feitas com dublês, sem a sensação de que não se saiu da frente do PC gerada por um Star Wars. Um filme em plena atividade das veias ao córtex cerebral, passando pelo coração, que existe e se garante, sem precisar gritar "cheguei e sou foda!" a cada minuto.

E, o principal, um filme do Batman que não se encaixa na fôrma mercadológica "filme do Batman" por toda a primeira hora de duração. Ou mesmo na fôrma "filme de super-herói".

Ainda por cima, vi nas melhores condições possíveis, que para um jornalista são praticamente impossíveis - e hoje, no pós-internet, também pra grande parte das pessoas comuns (sim, nós somos uns anormais). Ou seja, SEM SABER DE NADA A RESPEITO DO FILME, à parte o fato de ser protagonizado por Christian Bale e dirigido por Christopher Nolan e de ser uma adaptação de Batman - Ano 1.

De resto, eu não havia visto nem trailer. Nem me perguntem como consegui isso, mas o fato é que consegui.

Para além do conhecimento da fonte (um primor de HQ, classicismo revigorado, VIVO), eu não tinha noção cênica nem narrativa do que viria. Nem do resto do elenco eu sabia, o que, devido ao fato de os créditos só virem no final, me gerou uma quantidade deliciosa de surpresas à medida que este ou aquele rosto conhecido surgiam na tela. E quer saber? Nem vou falar que atores são esses. Por respeito aos dois ou três que acessarem essa página sem saber quem são e que consigam ir ao cinema totalmente no escuro como eu fui.

Eu sei, se forem dois ou três hoje, até sexta que vem, quando o filme estréia, não serão mais. Até porque o Bruno acaba de voltar de Los Angeles, onde foi fazer o junket* do filme, e deve postar em breve sobre a experiência de falar com ......, ........ e ............, sem falar, claro, em ............ e .................. ao vivo, de pertinho.

Mas fica por ora o misteriozinho bobo. Como uma homenagenzinha boba ao tempo em que era possível entrar no cinema e se maravilhar com um filme sem saber tudo sobre ele de antemão. Tempo esse ao qual parece pertencer esse filmaço, que, a exemplo da HQ que o inspira, se alimenta da tradição, da precisão, da economia de meios da linguagem clássica, sem jamais parecer retrô, lento ou pobre.

Está aberta a lista dos melhores de 2005. Sério.

E que seja um filme que todo o mundo vai ver a abri-la só me deixa mais feliz.

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* junket: bateria de entrevistas com elenco e equipe, concentrada em um ou dois dias, num único local, para o qual dezenas de jornalistas se deslocam. Ferramenta de divulgação preferida dos estúdios.

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